Textos variados de um estudante do céu. Estudo astrologia medieval, helenística e indiana, além dos ramos específicos de astrologia natal, horária e mundana. Análises, estudos, curiosidades, pensamentos sobre astrologia em geral!

sábado, 23 de maio de 2020

Pensando sobre Ingressos Solares de 2019/2020: O Brasil e o CoronaVirus

Vamos falar de 2020, e um pouco de 2019. Anos que não dá pra tirar mais da cabeça.

O ascendente do ingresso para Brasília é Capricórnio, o que torna necessário, assim como foi em 2019, erguer um mapa para cada trimestre do ano. 


Ingresso em Áries de 2020 – Brasília

O primeiro, o mais importante, contém o nodo sul, Marte, Júpiter e Saturno em Capricórnio no Ascendente. O povo, a casa 1, está sob a influência de muita coisa, contando com Saturno domiciliado a poucos dias de entrar em Aquário (sendo que vai retrogradar ainda) e Júpiter e Marte no mesmo grau; Júpiter em queda, Marte exaltado.

A conjunção Marte-Júpiter parece combinar bastante com a situação adoecida e infecciosa do mundo e do impacto econômico e sanitário forte que sofrerá a população brasileira. A associação com a supressão de liberdades através da violência e do perigo do CoronaVirus é forte também. Talvez seja outro ano em que queimadas e secas sejam desastrosas, pela força de Marte, regente da 4. Sobre Marte exaltado, segundo esse trecho do livro sobre Astrologia Mundana de William Ramesey:

Again, if at the Sun his ingress, you find Mars in the 28th degree of Capricorn, being his exaltation, he denotes many and great mutations, yet not altogether as notable and strange as the two preceding. The nature and quality thereof shall be according to his own proper signification, i.e. wars, fires, combustions, uproars, slaughters, thefts, rapines and robberies, and such like, unless he is beheld of Saturn by a sextile or trine and Saturn is then also well dignified and free from all manner of impediment and affliction, or behold other planets of whom he is received and well aspected and those planets also fortunate and free from all manner of impediment. But if otherwise, it shall be worse. 

Interessante que Saturno em trígono e sextil poderia ajudar mais do que a própria conjunção, que também cria a recepção mas machuca naturalmente. Além disso, Júpiter em queda também aflige e alivia ao mesmo tempo.

O regente do ascendente está prestes a mudar de signo, e levando em conta que é o planeta mais lento, isso vira muito significativo. Pode haver uma mudança considerável de percepção e estrutura social. Agora, em maio, a ideia de impeachment do Bolsonaro já não é absurda, mas ainda é fraca. A tradição de Saturno em Capricórnio erguer e desbancar um presidente brasileiro fora da curva (Quadros, Collor, Bolsonaro?) se repetiria. Uma expressão totalitária e militar, pós-Bolsonaro parece condizente com uma casa 1 tão influenciada por maléficos fortes. O nodo sul complementa a interpretação de agentes infecciosos, segredos, frustrações e implosões.

O regente da casa 6, doenças, é Mercúrio em Peixes na 3, que não influencia diretamente o ascendente, mas traz uma descrição de dificuldade em conter movimento e aglomerações, e uma disseminação da doença. Seu regente Júpiter está na casa 1, aflito e em queda.

O governo pode ser representado aqui por Vênus, regente de 10 (e 5), na casa 5., em quadratura com a Lua, regente natural do povo. A presença do regente da 10 na 5 pode ser negativa para o governo, por esta ser a casa 8 da casa 10, e isso enfraquece sua capacidade de governar bem sobre a casa. Mas está domiciliada, o que pode realmente aliviar a situação, sustentando-se em fidelidade, familiaridade, conforto, riqueza, inércia (Touro). A quadratura pode mostrar uma situação de atrito e desconfiança entre o povo e o governo de maneira geral. Vênus também faz um trígono com os planetas em Capricórnio, o que pode acabar mostrando um “fogo-amigo” (trígono, contato direto e fluido) prejudicando (maléficos) o governo. Até o fato dos maléficos estarem dignos apontam pra isso também:

Further note, that if your significator is afflicted by sextile, judge the evil proceeds from such as pretend to be friends to the king, people or any which your significator denotes; or from such as are not thought or suspected to be enemies: if it is by a square aspect, judge the signified mischief to arise from such as are clandestine and secretly enemies; if by a trine, from real friends and confederates; and lastly, if by opposition, by open and professed enemies.

Consider also the planet afflicting, and how dignified; as if a planet in his own house is afflicting the significator of the king or chief rulers, then judge the evil to arise from their own domestic friends and alliances; if he is in his exaltation, say it will proceed from some of the nobles, princes, dukes or such as are in high power and authority, or near unto the crown; 

Um ingresso solar com ascendente cardinal precisa de mais 3 ingressos, trimestrais para completar a análise do ano. Mas é interessante observarmos como os ingressos seguintes interagem com as posições e regentes do ingresso inicial, como em 2019, que no segundo semestre teve Marte em Virgem combusto interagindo com a Lua em Virgem do ingresso em Áries. 

A interação com eclipses também é relevante, como foi em 2019 com o eclipse de dezembro de 2019, conjunto a Júpiter em Capricórnio, em queda e combusto, visível na Ásia e que precedeu os primeiros casos de CoronaVirus. 

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Vamos abrir esse gigante parênteses sobre os eclipses e ingressos chineses!


Ingresso em Áries de 2019 – Pequim

O ingresso solar de 2019 de Pequim teve ascendente em Peixes, regido por Júpiter. O ascendente do segundo ingresso (para ascendentes mutáveis, ingressos semestrais são o suficiente) é Aquário, regido por Saturno, também perto do eclipse que foi no início de Capricórnio.

No primeiro mapa, não temos nada muito extremo; na verdade, temos um regente do Ascendente e da casa 10 bastante poderoso, na 10, em quadratura com a Lua cheia em Virgem na 7). Mas há um Mercúrio, em Peixes (queda), retrógrado, regente da 4 e 7, regendo inclusive a Lua em Virgem. Acho que essa Lua forte na 7, com esse regente e quadrando Júpiter pode representar um pouco o grande desgaste e agitação de Hong Kong, que dominou o primeiro semestre chinês de 2019. 


Ingresso em Libra de 2019 – Pequim

No segundo mapa, temos uma oposição bem dramática, do regente do Ascendente, Saturno, na 12 junto do nodo norte, com a Lua em Câncer na 6 junta do nodo sul. Essa é a configuração ativada pelo eclipse de dezembro, por Saturno estar em Capricórnio, regendo e em conjunção com o eclipse. O eclipse ainda acontece com Júpiter, o regente do ascendente do primeiro ingresso. Analisando o eclipse em si, podemos pensar então que ingressos solares que tivessem forte influência Saturno ou Júpiter aconteceriam em lugares em que o eclipse se manifestaria com mais força, principalmente se o eclipse foi visível desse lugar. No caso, a China.


Eclipse solar de dezembro de 2019 – Wuhan

Agora você me pergunta: eu vi isso antes e sabia que ia acontecer algo assim? Eu não, claro. Quando vi esse eclipse, ainda em 2019, pensei que pioraria a situação em Hong Kong, mas não fiz essa análise cruzada com os ingressos chineses, e honestamente acho difícil dizer que eu veria uma pandemia global acontecendo. Mas acho que aí o segredo é também percebermos que a conjunção Saturno-Júpiter, ainda mais num signo saturnino, cria condições bastante extremas, e o eclipse acontecer no mesmo signo que boa parte dessa conjunção também é relevante (o que é a mesma coisa que reconhecer que essa Grande Conjunção acontecer junto de um nodo, norte ou sul, é extremo também).

Outro ponto interessante é que os aspectos dos planetas se repetem em todos os ingressos ao longo do planeta, pois todos ocorrem nos mesmos momentos. O que muda de país pra país é:

  • As posições e regências por casa (quem rege o ascendente? E a casa 10? Quem está em signos angulares? Quais casas estão muito ativadas?)
  • Quais ingressos são necessários de se observar? 

No caso da China, o ingresso de Libra foi determinante. O país recebeu a regência do Ascendente de Saturno, que está bastante ocupado esse ano, fazendo Grande Conjunção, ocupando seus próprios signos e regendo eclipses. 

Bom, depois dessa gigantesco parênteses para falar do CoronaVirus, vamos voltar aos ingressos do Brasil, falando agora do de Câncer.

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Ingresso em Câncer de 2020 – Brasília

Já começamos esse trimestre com um eclipse, então essa parte inicial de Câncer está bem ativada. Talvez o fato da Lua reger esse eclipse mostre eventos de natureza muito emocional e pública. Mercúrio retrógrado também está em Câncer, mostrando comunicações confusas, misturadas, emocionais e passionais. A casa 7 de um ingresso solar mostra inimigos, conflitos, instabilidade com países estrangeiros, mas imagino que também possa mostrar aflições em geral para o povo (o Ascendente), por se opor a ele. 

Vênus retrógrada pode mostrar um período particularmente turbulento e imprevisível para o governo, em trígono com a Grande Conjunção, agora já retrógrada. Gêmeos na 6 é a casa 9 da 10, o que pode mostrar as turbulências acontecendo com conselheiros, juízes etc. É interessante a quantidade de trígonos com maléficos que apareceram nessas análises. Antes do ingresso, já tivemos o segundo ministro da saúde se demitindo. 

Temos o segundo eclipse, em julho, que vai ser visível na América do Sul e vai ativar mais uma vez o signo de Capricórnio. Acho razoável pensar que isso representa um lugar com grande potencial para o CoronaVirus ter uma outra onda forte. 


Ingresso em Libra de 2020 – Brasília

O mapa do ingresso de Libra é interessante pois o ascendente muda para Sagitário, agora já contendo o nodo sul, e também a Lua, aqui regente da 8. O novo regente do ascendente é Júpiter em queda na 2, com Saturno e quadrando Marte, ou seja, ainda aflito, mas pelo menos com sua retrogradação terminada. Temos Saturno, regente do ascendente dos últimos ingressos, em quadratura com Marte (retrógrado em Áries, regente de 5 e 12) e Mercúrio em Libra, agora regente da 10, e também 7. Acredito que nesse ponto, o país pode estar lidando com o luto e crise do nodo sul e Lua no ascendente, e com o governo bastante encurralado por problemas muito intensos. Vênus, regente anterior do governo, está na 9 (12 da 10) apenas com um trígono com esse Marte espinhoso. Mais denúncias de fogo amigo? Áries é a casa 4 (oposta à 10) do ingresso de Áries.


Ingresso em Capricórnio de 2020 – Brasília

E por fim, o ingresso de Capricórnio mostra ciclos interessantes se concluindo, quase um epílogo. A Grande Conjunção exata acontece a dias desse solstício, agora já em Aquário – quais modificações estruturais, sociais e econômicas já aconteceram e estão prometidas para o Brasil e o mundo a essa altura do ano?

Temos Marte em Áries na 4, depois da retrogradação, angular, rebelde e violento, se opondo à casa 10, com um regente fraco (Vênus em Sagitário na 12), conjunto ao nodo sul. Será que as instituições ainda existem na sua maneira habitual, ou contam com ataques, rebeliões, tribalismo e exílios?

Temos uma Lua em Peixes sem aspectos muito fortes, apenas cercada pelos 3 planetas que começaram o ano em Capricórnio. Ela se aplica ao Sol, talvez mostrando um momento que foca numa compreensão mais seca, pessimista e dura de uma nova identidade social e política (Sol na 1, como regente da 8).

O que dizer desse ano maluco? Tentei aqui expressar o que a astrologia me permite ver, mas com certeza é uma fração bem pequena do que esse ano significa na história desse país e desse mundo. Fique bem, lave as mãos, cuide de si!

domingo, 17 de maio de 2020

2020 e técnicas astrológicas: da terra pro ar




21 de dezembro de 2020


Esse ano é um grande divisor de águas, pelo menos em termos de duas técnicas da astrologia mundana. Uma delas é a das Grandes Conjunções, as conjunções de Saturno e Júpiter. Esses planetas, os mais lentos da astrologia clássica, se encontram a casa 20 anos, e seguem um ciclo em que todas as conjunções em uma faixa de 260 anos acontecem sempre em signos do mesmo elemento (fogo, terra, ar, água), até irem para o próximo elemento.

Essa transição para o próximo elemento nem sempre acontece de uma maneira tão ordenada. Isso tem a ver com onde a conjunção acontece de fato, o que nem sempre segue a “velocidade média” dos planetas. Nós agora estamos vivendo a transição do elemento terra para o elemento ar; a conjunção de 2000 foi em Touro, mas em 1980, foi em Libra. Antes disso foram 200 anos de terra, alternando entre Touro, Virgem e Capricórnio. Agora, entramos definitivamente em ar, com a Conjunção acontecendo em 21 de dezembro de 2020 no grau 0 de Aquário. 

Essa conjunção também conta com a presença de Plutão, que é muito usado por vários astrólogos modernos. É interessante observar essa conjunção tripla, mas uma conjunção de três objetos quase nunca será exata; eles se encontram em pares diferentes, cada um no seu momento. E desses, o par mais simbolicamente forte é com certeza o par Saturno-Júpiter. A conjunção tripla mais considerada da astrologia clássica seria Saturno, Júpiter e Marte, que inclusive aconteceu em Capricórnio e aparece forte no ingresso solar de Áries de 2020.





2 de abril de 2020


Podemos pensar que o ingresso solar do ano em que essa conjunção acontece é bastante influente no futuro, até por estar ser também de uma transição de elemento, e então pode simbolizar mais do que esses primeiros 20 anos.

Pra mais disso especificamente, sugiro esse post:

A outra técnica que aponta para uma grande mudança de era é a Dawr, que cria ciclos de 360 anos regidos por um planeta e um signo. Os planetas se seguem na ordem caldeica (do mais lento ao mais rápido), e os signos, na ordem do zodíaco. Agora, depois de um período de Saturno-Virgem, entramos em 2020 também no ciclo Júpiter-Libra.

Pra mais dessa outra técnica, com um sumário histórico interessante dessas fases, sugiro esse texto que dá pra perceber que foi no qual me baseei bastante para escrever esse texto.

As duas técnicas apontam pra uma transição específica de terra pra ar em 2020. Talvez desde 1980 conseguimos sentir esse ar, pela grande conjunção que já aconteceu em Libra. 

A terra é bem reconhecida por focar em recursos, ordenamento, acúmulo, funcionalidade e tangibilidade; as matérias-primas, a alimentação, o dinheiro, construções, as leis naturais, o corpo, seus sentidos e sua percepção. Sua vontade primordial é de facilitar a vida; seu pragmatismo vem da necessidade de sentir conforto, segurança e prazer, de criar condições materiais que arranjam as coisas de uma maneira conveniente e segura. Mas com terra sempre vem também uma ideia de ser objetivo, focar em resultados e priorizar detalhes técnicos. Existe um senso de empreendimento e investimento em relação até onde é possível levar a técnica, o conhecimento de causa, a apuração dos sensos, o planejamento, o acúmulo e a seleção.

Já o ar podemos entender como o elemento que foca nas construções mentais e sociais humanas; convenções linguísticas e simbólicas, ideologias, regras de etiqueta, estruturas sociais como a economia, a legislação, os gêneros etc. Existe um foco nas ideias e filosofias que nos regem, individual ou coletivamente, que coexistem “entre” todos nós, assim como o ar. Temos o  foco na comunicação, na exposição, na flexibilidade de se expressar e ouvir. Existe uma certa distância e indiferença inerente nesse elemento, que vem da inevitável distância das reais essências de coisas e pessoas, da resignação em apenas “representar” e “reduzir” a complexidade da realidade, e da percepção das regras sociais como flexíveis, mas bastante influentes e imperativas. 

Sobre a transição de Saturno/Virgem para Júpiter/Libra apontada pelo Dawr, Júpiter parece mostrar uma nova fase de uma coesão social mais alcançável, uma “globalização/homogeneização” mais humana, através também do florescimento de diversidade e igualdade, enquanto Saturno representou o domínio de várias técnicas, ciências e recursos, exploração, hierarquização, movimentos em massa etc. Virgem reforçou a questão do aprimoramento da técnica, da seleção, da higiene, da categorização e arquivamento de dados, enquanto Libra pode trazer de alguma maneira uma vivência mais hedonista, influenciável, esteticamente planejada, multilateral, preocupada com as aparências.

Podemos tentar enxergar da seguinte maneira então: os últimos 360 anos são simbolizados pela terra, com avanços científicos, exploração em larga escala da natureza, guerras baseadas em territorialidade, recursos e identidades étnicas, expansão de riqueza e de desigualdade social, revolução científica e industrial; os próximos 360 anos devem trazer para o foco questões de ar que também já aparecem de alguma maneira desde os anos 1980. A internet, a imagem, a personalidade digitalizada e suas interações, a volatilidade e insustentabilidade da economia global atual, a constante conexão e exposição, a importância do discurso e da aparência etc. Levando em conta especificamente a crise econômica, ecológica, política e sanitária de 2020, talvez o ar entre com a força problemas que pedem uma reestruturação social e política fundada em igualdade, parcimônia e coletivização. Só uma ideia, claro (bem otimista). Mas há um recado já muito dado: as ideologias e sistemas humanos contemporâneos exigem demais da Terra e precisam ser repensados inteligentemente, ou serão engolidos.

Tudo isso é uma grande previsão genérica para as próximas décadas. Mas o ingresso solar de agora com certeza tem muito a dizer sobre esse ano decisivo.