É normal, gente, todo mundo erra. Errei a horária de uma amiga minha, que queria saber se teria passado para uma universidade em outro estado. Aqui está o mapa.
Ela é representada por Saturno em Escorpião, e a universidade, por Mercúrio (casa 9 em Virgem), em Câncer. Mercúrio e Saturno se ligam por um trígono exato; a Lua está muito angular e se aplica ao benéfico Júpiter, por isso, considerei que ela havia passado. O problema é que eu fui bastante simplista nessa análise, e não levei em conta algumas coisas bem importantes.
Pra começar, Saturno está retrógrado. Em horária, isso tem uma grande importância: o planeta retrógrado sempre devolve a luz que recebe de um aspecto (assim como planetas combustos também não conseguem guardar a luz de um aspecto). Esse retorno pode ser bom ou ruim. Ele é bom quando, segundo o livro Introductions to Traditional Astrology (Abu Mash'ar & Al Qabisi - tradução de Ben Dykes):
1) Quando o planeta combusto/retrógrado ("empurrado") recebe o "empurrador" ("pusher" em inglês; ele está empurrando sua luz para o planeta).
2) O empurrador, direto (não retrógrado), e o empurrado (o combusto/retrógrado) estão ambos angulares e/ou sucedentes.
3) O empurrado pode estar cadente, desde que o empurrador não esteja.
E também temos o retorno da luz corrupto, que destroi a questão, quando:
1) O empurrador está cadente, e o empurrado (retróg./cadente) está angular/sucedente.
2) Ambos estão cadentes, combustos ou retrógrados.
Por que, quando o planeta direto está cadente e o outro angular/sucedente, a questão é destruída? Porque a luz volta para o planeta direto; como ele está cadente (aqui também entraria dignidades, eu acho), não tem forças para lidar com a luz retornada.
É bom esclarecermos o que significa empurrar também natureza e poder, algo que se relaciona muito com recepção. Empurrar a natureza é quando um planeta se aplica a seu regente; o planeta então imprime suas características intrínsecas no seu regente. Isso é, por definição, recepção. Por exemplo, a Lua em Leão se aplica ao Sol.
Empurrar poder é quando temos um planeta essencialmente dignificado por si só, e ele se aplica a outro planeta. O planeta dignificado empurra sua força para o segundo. Ou seja, um planeta ligado a outro que está forte também está forte. Júpiter em Sagitário se liga a qualquer outro planeta. O problema aqui é que o planeta deve estar dignificado e SE APLICAR a alguém; receber a aplicação (não no sentido de recepção) não entra nisso. Saturno nunca empurra seu poder para ninguém, por exemplo (só se se aplicar a um planeta que está beeeem lento).
Há também como "empurrar as duas naturezas": um planeta essencialmente dignificado se aplica ao seu regente. Lembrando que regente também varia entre domicílio, exaltação, triplicidade, termo e face. Vênus em Peixes (exaltada) se liga a Júpiter (domiciliar).
Existe também como "empurrar a responsabilidade", que é apenas uma aplicação normal. A Lua se aplicando a Marte, independente das dignidades, dá sua responsabilidade a Marte.
Enfim, aplicando isso à horária: apesar de Mercúrio se aplicar a Saturno, este está retrógrado, devolvendo a luz a um Mercúrio cadente e peregrino, e Saturno não recebe Mercúrio. Ou seja, a questão é destruída. Vênus recebendo Mercúrio por face e triplicidade não parece ter sido efetivo, talvez porque Mercúrio se separa de Vênus. Em astrologia horária, uma separação quase não tem importância, por falar de eventos passados conhecidos.
Interessante o fato de que, pelo menos aparentemente, o fato de Mercúrio estar no detrimento de Saturno não tem importância.
A Lua se aplicando a Júpiter, porém, é diferente. Júpiter também retorna a luz que recebe, por estar combusto. Porém, a Lua está angular, e Júpiter cadente; isso obedece a regra que classifica esse retorno como positivo! Como a Lua fala da questão de forma mais geral, podemos dizer que, apesar do retorno da luz, a Lua (minha amiga) não terá grandes problemas com isso. Ela já estava em uma ótima universidade aqui na própria cidade. Abu Mash'ar diz que a Lua se aplicando a um benéfico leva a questão a perfeição, desde que o benéfico esteja altamente dignificado e/ou não cadente; não é o que temos aqui. A questão não se completou como minha amiga queria, afinal.
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